segunda-feira, 9 de março de 2009

Marx - Seminário 5

As premissas das quais partimos não são bases arbitrárias, dogmas; são as bases reais das quais só podemos fazer abstração na imaginação. São os indivíduos reais, sua ação e suas condições de existência materiais, aquelas que eles encontraram prontas, como também as que nascem de sua própria ação. Essas bases são, portanto, verificáveis por via puramente empírica.
A condição primeira de toda história humana é naturalmente a existência de seres humanos vivendo .O primeiro estado de fato a constatar é, portanto a complexão corporal desses indivíduos e as relações que ela estabelece com o resto da natureza. Não podemos, naturalmente, fazer aqui um estudo aprofundado da constituição física do homem, nem das condições naturais que os homens encontram prontas, condições geológicas, orográficas, hidrográficas, climáticas e outras. Toda a história deve partir dessas bases naturais e de suas modificações pela ação dos homens no curso da história.
Podem-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião e por tudo aquilo que se queira. Eles próprios começam a se distinguir dos animais desde que começam a produzir seus meios de existência, passo que é a conseqüência própria de sua organização corporal. Produzindo seus meios de existência, os homens produzem indiretamente sua própria vida material.
A maneira pela qual os homens produzem seus meios de existência depende inicialmente da natureza, dos meios de existência já dados e dos que é preciso produzir. Não se deve considerar esse modo de produção de um único ponto de vista, a saber, que ele é a reprodução da existência física dos indivíduos. Ele representa, ao contrário, já um modo determinado da atividade desses indivíduos, uma maneira determinada de manifestar sua vida, um modo de vida determinado. A maneira pela qual os indivíduos manifestam sua vida reflete exatamente o que eles são. O que eles são coincide, portanto com sua produção, tanto com o que eles produzem quanto com a maneira pela qual o produzem. O que os indivíduos são depende então das condições materiais de sua produção.
Esta produção só aparece com o crescimento de população. Ela própria pressupõe por sua vez relações dos indivíduos entre eles. A forma dessas relações é por sua vez condicionada pela produção.
As relações das diferentes nações entre si dependem do estado de desenvolvimento em que se encontram cada uma delas no que concerne às forças produtivas, à divisão do trabalho e às relações interiores.
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Os diversos estados de desenvolvimento da divisão do trabalho representam outras tantas formas diferentes da propriedade; dito de outra forma, cada novo estado da divisão do trabalho determina igualmente as relações dos indivíduos entre eles para o que está relacionado à matéria, instrumentos e produtos do trabalho.
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Eis, portanto os fatos: indivíduos determinados que têm uma atividade produtiva segundo um modo determinado, entram em relações sociais e políticas determinadas. É preciso que, em cada caso particular, a observação empírica mostre nos fatos, e sem nenhuma especulação nem mistificação, a ligação entre a estrutura social e política e a produção. A estrutura social e o Estado resultam constantemente do processo vital dos indivíduos determinados; mas esses indivíduos de modo algum tal como possam aparecer em sua própria representação ou aparecer na de outro, mas tal como são realmente, isto é, tal como eles trabalham e produzem materialmente; portanto tal como agem sobre bases e em condições e limites materiais determinados e independentes de sua vontade.
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A produção de idéias, de representações, da consciência, está, de em primeiro lugar, diretamente entrelaçada com a atividade material dos homens, e aparecem como emanação direta dela. O mesmo ocorre com a produção espiritual, tal como aparece na linguagem política, das leis, da moral, da religião, da metafísica etc de um povo. Os homens são produtores de suas representações, de suas idéias etc, mas os homens reais e ativos, tal como se acham condicionados por um determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e pelo intercâmbio que a ele corresponde até chegar às suas formações mais amplas. A consciência jamais pode ser outra coisa do que o ser consciente, e o ser dos homens é o seu processo de vida real. E se, em toda ideologia, os homens e suas relações aparecem invertidos como numa câmara escura, tal fenômeno decorre do seu processo histórico de vida, do mesmo modo por que a inversão dos objetos na retina decorre de seu processo de vida diretamente físico.
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Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência.
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Com os Alemães que se julgam desprovidos de qualquer pressuposto, nos força começar pela constatação da pressuposição primeira de toda existência humana, partindo de toda história, a saber, que os homens devem estar vivos para poder “fazer a história”. Mas, para viver, é preciso antes de tudo beber, comer, se abrigar, se vestir e algumas outras coisas ainda. O primeiro fato histórico é, portanto a produção dos meios que permitam satisfazer essas necessidades, a produção da própria vida material, e é nisso mesmo um fato histórico, uma condição fundamental de toda história que se deve, hoje ainda como há milhares de anos, preencher dia por dia, hora por hora, simplesmente para manter os homens vivos. (...).
Uma vez a primeira necessidade satisfeita, a ação de satisfazê-la e o instrumento já adquirido dessa satisfação colocam nossas necessidades, - e este produção de novas necessidades é o primeiro fato histórico.

MARX, Karl. A Ideologia Alemã.

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